quinta-feira, 7 de abril de 2011

O que é o Eu e aonde ele se encontra?

Existe uma longa discussão em torno daquilo que é o ser humano. O motor da discussão é, em suma, a natureza do mental, ou, das diferenças entre o que é físico e o que é mental. Ou, em outros termos, qual é a nossa natureza - enquanto seres humanos - no que se refere às coisas ditas mentais e materiais (físicas)? Somos seres mentais ou materiais? O Eu é material ou não? Há diferença entre mental e físico? Se há, qual é?

Intuitivamente, parece ser óbvio. Porém, dizer que há diferenças entre algo físico e algo mental atrapalha muito a nossa visão de mundo científica. E uma das suas grandes discussões atuais se refere justamente sobre tal diferenciação existente entre o físico e o mental. Nos meios acadêmicos, a tendência contemporânea - como argumentou diversas vezes o filósofo John R. Searle - é eliminar tudo aquilo que é mental em favor do materialismo científico, ou seja, eliminar do vocabulário científico tudo aquilo que seja mental. Não entraremos no assunto - porque isso faz parte do interesse do leitor -, mas a posição de Searle é a de defender um pluralismo de vocabulário para diferentes ontologias (ou seja, diferentes realidades específicas exigem diferentes vocabulários).

No âmbito das pessoas comuns, em reverso, a tendência contemporânea é alimentar a fantasia e descartar - supondo estar fora do alcance da ciência - tudo que nesse campo seja material. O calor das discussões religiosas provocadas pelo surgimento de seitas mil, aumentam ainda mais a energia dos debates -provocando até mesmo explosões, metafóricas e literais.

Para colocar um sabor a mais à apimentada discussão, considerem as pesquisas (procurem mais no You Tube) do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis - referência mundial na sua área.


Independentemente das posições que vocês venham a tomar em relação à discussão da natureza do mental e do físico, vale notar algumas coisas. Historicamente, o ser humano é definido pelas suas capacidades mentais e pela vida mental. E esta pode ser uma oportunidade para você compreender, como mostra a experiência com a macaca, que o Eu não tem seus limites circunscritos num corpo. Rapidamente a macaca incorpora  o instrumento à sua pessoa.

Melhor dizendo: para demonstrar o Eu não se pode apontar para nosso corpo. E, apesar de o cérebro ser essencial para o surgimento do fenômeno "Eu", é preciso uma gama enorme de interações para que o Eu surja. 

Cuidado com as especulações. Dizer que o Eu não é a mesma coisa que o Corpo não significa dizer que o Eu sobreviva à morte do corpo. No entanto, podemos imaginar que no futuro haverá condições para se fazer  transfusão mental. Desse modo salvaremos nossa consciência ou num outro corpo biológico, ou num corpo artificial para que seja possível a manifestação da consciência e, assim, escaparmos da morte. 

O suporte orgânico (ou de outros artifícios) não podem ser produzidos hoje. Talvez, nunca possam ser criados. No entanto, a impossibilidade é apenas prática, não teórica (isso é muito importante notar porque em ciência a projeção teórica vem primeiro em qualquer pesquisa). Teoricamente não há um impedimento decisivo quanto à possibilidade da transferência mental.

Por isso tudo, lembre-se que estamos tratando não só de que coisas existem no mundo e de como elas  funcionam, mas estamos lidando com assunto que se refere à nossa autocompreensão como seres humanos.

Bom divertimento!

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